Precisávamos apenas a voltar a ter sonhos como de uma criança. Se nossos atos fossem menos maliciosos, talvez ainda teríamos um bom motivo aparente de acreditar no mundo em que vivemos, desde os tempos da imaginação, dos doces e das brincadeiras.
O tempo passou, tivemos que nos acostumar com a idéia fútil de que daqui pra frente, a coisa tem que ser séria. Organizar os sentimentos e reprimir toda a forma desajustada de viver a vida.
Não podemos mais. Qualquer instante de ingenuidade é perca de tempo. Nos coloca para traz.
Um coração imaturo, não cabe as grandes consepções de uma vida de gente grande.
"Todas as pessoas grandes já foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso." (O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry)
Não se tem mais o direito de pensar pequeno. O que importa são as grandes ambições. A brincadeira agora é a de fazer dinheiro.
Constituir uma família é importante e muito bom, mas é preciso deixar de lado todas as longas horas que se passava penteando os cabelos da boneca preferida, ou o título de mãe imatura, que não tem capacidade de cuidar do próprio filho.
Os carrinhos nos foram tirados. Só nos restaram os que desde sempre forma apenas para coleções.
Nossa insondável caixa de brinquedos. Repletos de nossos tesouros, é esquecida propositalmente do lado de fora do portão de nossa casa. Estamos sendo enviados a um internato. Deveremos obedecer regras mais rígidas. A ordem que se escutaremos agora nesse novo quartel será de que não temos mais tempo para brincadeiras.
Não recordaremos mais o nome do amiguinho da esquina de nossas casas. Não seremos mais pertubados pela garota de vestido rosa. Não trocaremos mais socos com o briguentinho do outro lado da rua. Eles apenas foram virar adultos.
A palavra sonho é proibida. Sonhar também. Não se pode dar tempo a esses eventos que nossas razões mentais não se tem como certas. Dizem que eles deixaram de existir quando tivemos que enfrentar o primeiro curso profissionalizante.
Nos tornamos a partir de então, amigos de pessoas passageiras. De situações passageiras. De personalidades passageiras.
Aumentaram-se os números. O que antes eram possíveis contar com as duas pequenas mãos, devem ser medidos por aparelhos eletrônicos. Penso que tudo seja culpa da digitalização, ou não. Mas que tudo passou a girar entorno de teclas é verdade. Afastou-nos das nossas imaginações.
Tentaram me surpreender com o fato de que Papai Noel não existira. Acredito eu que pensaram que com a dor seria mais fácil de querer mudar de cabeça, pensar de uma forma "madura". Enganaram-se, pois desde sempre eu não mantinha certo contato com esse homem cristificado de bom velhinho.
Até tentaram me aterrorizar com o fato de ter obrigações. Esqueceram que desde pequenos somos submetidos a alguma forma de tarefa. Se não as cumprisse, passaríamos algum momento de castigo em um canto qualquer, ou outra situação que hora ou outra, só tornou mais forte em nós que as crianças que tem razão, pois ganhamos a atenção, mesmo que indevidamente dos olhos adultos que se esquecem de como é que a vida funciona. De afetos.
A unica coisa que talvez nos cause um certo frisson, capaz de nos colocar a beira de um precipício, é o fato de não podermos mais brincar.
Como assim? Só podem estar ficando loucos!
Tudo o que aprendemos até agora foi através das brincadeiras. Não se é fácil partilhar com outros os seus brinquedos. Aprendemos meio que até na força, mas está aí. Aprendemos!
Dialogar então? Coisa mais difícil de se fazer quando só se pensa em chorar, gritar, espernear.
Não, esse povo que se julga maduro não sabe de nada.
Talvez compreendamos agora, o motivo pelo qual éramos retirados, sem nosso consentimento do meio da roda tão subitamente. Já nos ensinavam a fugir quando a felicidade estivesse presente.
O que essas situações nos passam a vontade de manter-se isolado do mundo. Tristes chorando por algo que não existe. Nesses momentos, colocavam-nos dentro do quarto com o monstro, sabe se lá qual é.
Tudo nos é tirado. Nada nos resta. Só a incapacidade de sermos que de verdade somos.
A educação que tivemos quando crianças permanecerão, mas teremos que juntar com um punhado de mesquinhez.
Os padrões pré estabelecidos que nos restam quando tomamos consciência de vida adulta, é reprimida apenas em ser adulto. Não existe mais criatividade.
Os sorrisos se tornam forjados. As gargalhadas só se seguem quanto manipulados por qualquer vinho tinto vagabundo. Isso tem mais valor que uma ciranda cantada em coro.
O riso solto se condensou a uma mísera conversa de botequim. A unica preocupação se torna em sobreviver, pois manter-se a salvo é coisa de gente grande.
Nos tiraram o direito de escolha. E o mais engraçado foi que fizeram isso com a maior falta de educação: não pediram por favor. Tiraram de nossas mãos e levaram.
Agora, o que conto aqui, só os amigos mais chegados sabem: nosso corpo mudou. As pernas se esticaram pretenciosamente. Surgiram dores. Estamos num processo de Adulteração. Não fomos feitos para isso. O processo vai continuar no processo, é como um caso que não terá solução.
O que vai nos manter vivos, é nossa capacidade de imaginação. Mesmo que fértil. É uma imaginação própria, livre de julgamentos. Ainda temos sonhos, independente do que digam. A nós eles ainda permanecem possíveis de acontecer. O nome de criança, permanece nessa fase. Não muda, assim também nossa imaturidade, continua a mesma, mas solidificada com os sonhos, obrigações e tudo que cerca a vida de gente grande.
É isso que nos assegura a capacidade de sermos crianças. Por isso digo: somos crianças, estamos adultos e voltaremos ao pó da vida como crianças, pura e sem máculas.
Um comentário:
É tudo a mais pura verdade!
Não retiro nenhuma vírgula.
E acrescento que de alguns sentimentos que nascem quando crianças não nos libertamos nunca, quando são verdadeiros...
É muito bom poder te chamar de amigo e saber que esse sentimento, verdadeiro, não morrerá nunca, eu tenho certeza disso, é uma das únicas melhores recordações desse meu tempo, que você citou.
Orgulho enorme de você! =)
Te amo, muito! ♥
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